Decisão compartilhada na atenção primária e desfechos em saúde: uma revisão integrativa

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5712/rbmfc16(43)2388

Palavras-chave:

Tomada de Decisão Clínica, Atenção primária à saúde, Avaliação de Resultados da Assistência ao Paciente, Avaliação de Processos e Resultados em Cuidados de Saúde.

Resumo

O processo de decisão compartilhada pode ser definido a partir dos seguintes elementos: 1. há, no mínimo, duas pessoas envolvidas no processo de decisão, o médico e o paciente; 2. médico e paciente compartilham informações; 3. ambos contribuem para o processo decisório expondo suas preferências; 4. chega-se a uma decisão sobre a qual todos os envolvidos concordam. Seu emprego se justifica principalmente pelo aspecto ético de incluir o paciente nas decisões cujas consequências ele sofrerá. Todavia, muito se questiona sobre a relação desta prática com os desfechos em saúde. Objetivos: Esse estudo tem por objetivo avaliar a relação entre a prática da decisão compartilhada e desfechos em saúde em cenários de atenção primária à saúde. Métodos: Realizou-se uma revisão integrativa da literatura e foram incluídos artigos que tivessem medidas empíricas de decisão compartilhada durante o encontro clínico, cujo cenário fosse a atenção primária à saúde e que apresentasse avaliação de, pelo menos, um desfecho em saúde. Resultados: Inclui-se dez artigos no estudo, e os temas abordados são depressão (4 artigos), hipertensão (2), diabetes (1), risco cardiovascular (1), rastreio de câncer colorretal (1) e infertilidade (1). Metade dos estudos sobre depressão encontraram associação positiva entre a decisão compartilhada e a melhora dos sintomas depressivos. Dos estudos sobre hipertensão, não se encontrou associações estatisticamente significativas. Do estudo sobre diabetes, não se constatou correlação positiva entre decisão compartilhada e redução da hemoglobina glicada e do LDL. Compartilhar a decisão ao discutir risco cardiovascular não piorou o escore deste indicador 6 meses após a consulta. Com relação ao rastreio de câncer colorretal, discutir riscos e benefícios e avaliar as preferências dos pacientes se associou negativamente à realização dos testes de rastreio. Por fim, decisão compartilhada se associou a melhor experiência de cuidado para pessoas em acompanhamento para infertilidade na atenção primária. Dois estudos cronometraram consultas e não se observou diferenças de tempo entre aqueles que usaram e os que não usaram a decisão compartilhada. Quatro estudos não definiram conceitualmente a decisão compartilhada e quatro estudos não utilizaram ferramentas validadas para medi-la. Conclusão: Com relação aos desfechos avaliados, os artigos incluídos nesta revisão apresentam resultados ambíguos, com aparente tendência de correlação positiva entre decisão compartilhada e desfechos. Todavia, a falta de uniformidade com relação à definição conceitual de decisão compartilhada parece ser potencial barreira para pesquisas de maior qualidade na área.

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Biografia do Autor

Gabriel Glebocki, Secretaria de Saúde de São Bernardo do Campo, SP

Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo (2017) e graduação em Física pela Universidade de São Paulo (2011). Participou, como bolsista de iniciação científica, de grupo de pesquisa no Laboratório de Endocrinologia Molecular Translacional da UNIFESP, com foco em desreguladores endócrinos. Atualmente, está no segundo ano de residência médica em Medicina de Família e Comunidade.

Felipe G. Corneau, Secretaria de Saúde de São Bernardo do Campo, SP

Possui graduação em Medicina (2011) e Mestrado em Saúde Pública (2016), ambos pela Universidade de São Paulo. Tem experiência na área de Medicina de Família e Comunidade e Sáude Pública, atua como preceptor no Programa de Residência Médica de MFC da Prefeitura Municipal de São Bernardo do Campo.

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Publicado

2021-11-10

Como Citar

1.
Glebocki G, Gonçalves Corneau F. Decisão compartilhada na atenção primária e desfechos em saúde: uma revisão integrativa. Rev Bras Med Fam Comunidade [Internet]. 10º de novembro de 2021 [citado 29º de março de 2024];16(43):2388. Disponível em: https://rbmfc.org.br/rbmfc/article/view/2388

Edição

Seção

Artigos de Pesquisa

Plaudit