Tratamento medicamentoso para depressão e prevenção quaternária

Autores

  • Marco Túlio Caria Guimarães Pereira Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte-MG https://orcid.org/0000-0002-4882-3060
  • Felipe Augusto Morais de Souza Instituto de Psiquiatria da UFRJ - IPUB https://orcid.org/0000-0003-1943-1225
  • Felipe Monte Cardoso Secretaria Municipal de Saúde de Florianópolis-SC

DOI:

https://doi.org/10.5712/rbmfc16(43)2568

Palavras-chave:

Atenção Primária à Saúde, Depressão, Antidepressivos, Prevenção Quaternária.

Resumo

O uso generalizado de antidepressivos tem aumentado progressivamente nos últimos anos. No entanto, as evidências para o tratamento medicamentoso da depressão são pouco consistentes, sendo restritas as formas mais graves do transtorno e com modesta melhora clínica. Além disso, os efeitos adversos e os riscos relacionados ao uso crônico dessas medicações estão bem estabelecidos na literatura científica. Assim, é importante que os médicos de família tenham uma abordagem crítica deste problema e se questionem qual a melhor forma de ajudar seus pacientes. Os autores deste artigo levantam algumas hipóteses para explicar a prescrição excessiva de antidepressivos e, principalmente, trazem orientações para médicos de família e comunidade no cuidado das pessoas com depressão, com sugestões práticas de orientar o cuidado pela prevenção quaternária, utilizando ferramentas como o compartilhamento de decisão, o cuidado colaborativo e a busca dos suportes sociais durante a consulta.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Métricas

Carregando Métricas ...

Referências

(1) Lewer D, O’Reilly C, Mojtabai R, Evans-Lacko S. Antidepressant use in 27 European countries: associations with sociodemographic, cultural and economic factors. Br J Psychiatry. 2015;207(3):221‐6. DOI: https://doi.org/10.1192/bjp.bp.114.156786 PMID: 26159603

(2) Whitaker R. Anatomy of an epidemic: psychiatric drugs and the astonishing rise of mental illness in America. Ethical Hum Sci Serv. 2005;7(1):23-35.

(3) National Health Service (NHS). Antidepressants were the area with largest increase in prescription items in 2016 [Internet]. London (UK): NHS; 2017; [acesso em 2020 Jun 06]. Disponível em: https://webarchive.nationalarchives.gov.uk/20180328132107/http://content.digital.nhs.uk/article/7756/Antidepressants-were-the-area-with-largest-increase-in-prescription-items-in-2016

(4) Norman AH, Tesser CD. Prevenção quaternária: as bases para sua operacionalização na relação médico-paciente. Rev Bras Med Fam Comunidade. 2015 Abr/Jun;10(35):1-10. DOI: http://dx.doi.org/10.5712/rbmfc10(35)1011

(5) Moncrieff J. Against the stream: antidepressants are not antidepressants - an alternative approach to drug action and implications for the use of antidepressants. Br J Psych Bull. 2018 Jan;42(1):42-4. DOI: https://doi.org/10.1192/bjb.2017.11 PMID: 29388527

(6) Moncrieff J. Research on a ‘drug-centred’ approach to psychiatric drug treatment: assessing the impact of mental and behavioural alterations produced by psychiatric drugs. Epidemiol Psychiatr Sci. 2018;27(2):133-40. DOI: https://doi.org/10.1017/S2045796017000555 PMID: 29022518

(7) Lacasse JR, Leo J. Serotonin and depression: a disconnect between the advertisements and the scientific literature. PLoS Med. 2005;2(12):e392. DOI: https://doi.org/10.1371/journal.pmed.0020392 PMID: 16268734

(8) Cowen PJ, Browning M. What has serotonin to do with depression?. World Psychiatry. 2015 Jun;14(2):158-60. DOI: https://doi.org/10.1002/wps.20229

(9) Mitchell AJ, Vaze A, Rao S. Clinical diagnosis of depression in primary care: a meta-analysis. Lancet. 2009 Ago;374(9690):609-19. 10. Craven MA, Bland R. Depression in primary care: current and future challenges. Can J Psychiatry. 2013 Ago;58(8):442-8. DOI: https://doi.org/10.1177/070674371305800802

(10) Goncalves DA, Fortes S, Campos M, Ballester D, Portugal FB, Tófoli LF, et al. Evaluation of a mental health training intervention for multidisciplinary teams in primary care in Brazil: a pre- and posttest study. Gen Hosp Psychiatry. 2013 Mai/Jun;35(3):304-8. DOI: https://doi.org/10.1016/j.genhosppsych.2013.01.003 DOI: https://doi.org/10.1016/j.genhosppsych.2013.01.003

(11) Aragonès E, Piñol JL, Labad A. The overdiagnosis of depression in non-depressed patients in primary care. Fam Pract. 2006 Jun;23(3):363-8. DOI: https://doi.org/10.1093/fampra/cmi120 PMID: 16461446

(12) Dowrick C, Frances A. Medicalising unhappiness: new classification of depression risks more patients being put on drug treatment from which they will not benefit. BMJ. 2013 Dez;347:f7140. DOI: https://doi.org/10.1136/bmj.f7140 PMID: 24322400

(13) Kale MS, Korenstein D. Overdiagnosis in primary care: framing the problem and finding solutions. BMJ. 2018;362:k2820. D

(14) Geraghty AWA, Santer M, Beavis C, Williams S, Kendrick T, Terluin B, et al. ‘I mean what is depression?’ A qualitative exploration of UK general practitioners’ perceptions of distinctions between emotional distress and depressive disorder. BMJ Open. 2019;9(12):e032644. DOI: https://doi.org/10.1136/bmjopen-2019-032644 PMID: 31843841

(15) Jerant A, Kravitz RL, Fernandez Y, Garcia E, Feldman MD, Cipri C, et al. Potential antidepressant overtreatment associated with office use of brief depression symptom measures. J Am Board Fam Med. 2014 Set;27(5):611-20. DOI: https://doi.org/10.3122/jabfm.2014.05.140038

(16) Kirsch I, Deacon BJ, Huedo-Medina TB, Scoboria A, Moore TJ, Johnson BT. Initial severity and antidepressant benefits: a meta-analysis of data submitted to the Food and Drug Administration. PLoS Med. 2008;5(2):e45. DOI: https://doi.org/10.1371/journal.pmed.0050045 PMID: 18303940

(17) Jakobsen JC, Katakam KK, Schou A, Hellmuth SG, Stalknecht SE, Meth-Moller K, et al. Selective serotonin reuptake inhibitors versus placebo in patients with major depressive disorder. A systematic review with meta-analysis and trial sequential analysis BMC Psychiatry. 2017 Fev;17(1):58. DOI: https://doi.org/10.1186/s12888-016-1173-2

(18) Fournier JC, DeRubeis RJ, Hollon SD, Dimidjian S, Amsterdam JD, Shelton RC, et al. Antidepressant drug effects and depression severity: a patient-level meta-analysis. JAMA. 2010 Jan;303(1):47‐53. DOI: https://doi.org/10.1001/jama.2009.1943 PMID: 20051569

(19) Spence D. Bad medicine: the rise and rise of antidepressants. Br J Gen Pract. 2016;66(652):573. DOI: https://doi.org/10.3399/bjgp16X687793 PMID: 27789499

(20) Norman AH, Tesser CD. Prevenção quaternária na atenção primária à saúde: uma necessidade do Sistema Único de Saúde. Cad Saúde Pública. 2009 Set;25(9):2012-20. DOI: https://doi.org/10.1590/S0102-311X2009000900015

(21) Reefhuis J, Devine O, Friedman JM, Louik C, Honein MA; National Birth Defects Prevention Study. Specific SSRIs and birth defects: Bayesian analysis to interpret new data in the context of previous reports. BMJ. 2015;351:h3190. DOI: https://doi.org/10.1136/bmj.h3190 PMID: 26156519

(22) Farnsworth KD, Dinsmore WW. Persistent sexual dysfunction in genitourinary medicine clinic attendees induced by selective serotonin reuptake inhibitors. Int J STD AIDS. 2009 Jan;20(1):68-9. DOI: https://doi.org/10.1258/ijsa.2008.008402 PMID: 19103903

(23) Fava GA, Gatti A, Belaise C, Guidi J, Offidani E. Withdrawal symptoms after selective serotonin reuptake inhibitor discontinuation: a systematic review. Psychother Psychosom. 2015;84(2):72-81. DOI: https://doi.org/10.1159/000370338 PMID: 25721705

(24) Horowitz M, Abie DT. Tapering of SSRI treatment to mitigate withdrawal symptoms. Lancet Psychiatry. 2019;6(6):538-46. DOI: https://doi.org/10.1016/S2215-0366(19)30032-X

(25) Kirsch I. Antidepressants and the placebo effect. Z Psychol. 2014;222(3):128-34. DOI: https://doi.org/10.1027/2151-2604/a000176 PMID: 25279271

(26) Patten SB. Medical models and metaphors for depression. Epidemiol Psychiatr Sci. 2015 Ago;24(4):303-8. DOI: https://doi.org/10.1017/S2045796015000153

(27) Kleinman A. Culture and depression. N Engl J Med. 2004 Set;351(10):951-3. DOI: https://doi.org/10.1056/nejmp048078

(28) Dalgalarrondo P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. 2ª ed. Porto Alegre (RS): Artmed; 2008.

(29) Goldberg D. Os sistemas oficiais de classificação psiquiátrica para transtornos mentais são adequados para uso na atenção primária ?. Br J Gen Pract. 2019; 69 (680): 108-9. DOI: https://doi.org/10.3399/bjgp19X701369

(30) Verhaak PFM, Beurs D, Spreeuwenberg P. Que proporção dos antidepressivos inicialmente prescritos ainda está sendo prescrito cronicamente após 5 anos na prática geral? Uma análise de coorte longitudinal BMJ Open. 2019; 9 (2): e024051. DOI: https://doi.org/10.1136/bmjopen-2018-024051 PMID: 30813115

(31) Freeman TR, McWhinney I. Manual de Medicina de Família e Comunidade. 4ª ed. Porto Alegre (RS): Artmed; 2017

(32) Siu AL; Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos EUA (USPSTF). Triagem para depressão em adultos: declaração de recomendação da força-tarefa dos serviços preventivos dos EUA. JAMA. Janeiro de 2016; 315 (4): 380-7. DOI: https://doi.org/10.1001/jama.2015.18392

(33) Mojtabai R. Triagem universal de depressão para melhorar os resultados da depressão na atenção primária: parece bom, mas onde estão as evidências? Psychiatr Serv. 2017; 68 (7): 724-6. DOI: https://doi.org/10.1176/appi.ps.201600320 PMID: 28292224

(34) Thombs BD, Saadat N, Riehm KE, Kartner JM, Vaswani A, Andrews BK, et al. Consistência e fontes de divergência nas recomendações sobre triagem com questionários para problemas ou sintomas de saúde atualmente experimentados: uma comparação das recomendações da Força-Tarefa Canadense sobre Cuidados de Saúde Preventivos, Comitê Nacional de Triagem do Reino Unido e Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos EUA. BMC Med. 2017 Atrás; 15: 150. DOI: https://doi.org/10.1186/s12916-017-0903-8

(35) Força-Tarefa Canadense sobre Atenção à Saúde Preventiva (CTFPHC). Visão geral das diretrizes [Internet]. Calgary: CTFPHC; 2019; [acesso em 2020 jun 06]. Disponível em: www.canadiantaskforce.ca/ctfphc-guidelines/overview

(36) Comitê Nacional de Seleção do Reino Unido (UKNSC). Recomendações atuais do UKNSC [Internet]. Londres (Reino Unido): UKNSC; 2020; [acesso em 2020 jun 06]. Disponível em: https://legacyscreening.phe.org.uk/screening-recommendations.php

(37) Balint M. O médico, seu paciente e a doença. 2ª ed. Rio de Janeiro (RJ): Atheneu; 1988.

(38) Mercier A, Auger-Aubin I, Lebeau J, Van Royen P, Peremans L. Compreendendo a prescrição de antidepressivos: um estudo qualitativo entre os GPs franceses. BMC Fam Pract. Conjunto de 2011; 12: 99. DOI: https://doi.org/10.1186/1471-2296-12-99 https://doi.org/10.1186/1471-2296-12-99

(39) Cavalli LO, Rizzotto MLF, Guimarães ATB. O médico no processo de avaliação externa do Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica, ciclos I e II. Saúde Debate. 2016 Dez; 40 (111): 87-100. https://doi.org/10.1590/0103-1104201611107

(40) Campos RO, Gama CA, Ferrer AL, Santos DVD, Stefanello S, Trapé TL, et al. Saúde mental na atenção primária à saúde: estudo avaliativo em uma grande cidade brasileira. Ciênc Saúde Colet. Dez 2011; 16 (12): 4643-52. https://doi.org/10.1590/S1413-81232011001300013

(41) Charles C, Gafni A, Whelan T. Tomada de decisão compartilhada no encontro médico: o que isso significa? (ou leva pelo menos dois para dançar o tango). Soc Sci Med. Março de 1997; 44 (5): 681-92. PMID: 9032835 https://doi.org/10.1016/S0277-9536(96)00221-3

(42) Elwyn G, Edwards A, Kinnersley P. Tomada de decisão compartilhada na atenção primária: a negligenciada segunda metade da consulta. Br J Gen Pract. 1999; 49: 477-82. PMID: 10562751

(43) Makoul G, Clayman ML. Um modelo integrativo de tomada de decisão compartilhada em encontros médicos. Paciente Educ Couns. Março de 2000; 60 (3): 301-12. https://doi.org/10.1016/j.pec.2005.06.010

(44) Stewart M, Brown JB, Weston WW, McWhinney IR, McWilliam CL, Freeman R. Medicina centrada na pessoa: transformando o método clínico. Tradução: Anelise Burmeister, Sandra Maria Mallmann da Rosa; revisão técnica: José Mauro Ceratti Lopes. 3ª ed. Porto Alegre (RS): Artmed; 2017

(45) Joosten EAG, Fuentes-Merillas L, Weert GH, Sensky T, Van Der Staak CPF, Jong CAJ. Revisão sistemática dos efeitos da tomada de decisão compartilhada na satisfação do paciente, adesão ao tratamento e estado de saúde. Psychother Psychosom. 2008; 77 (4): 219-26. DOI: https://doi.org/10.1159/000126073

(46) Elwyn G, Lloyd A, Joseph-Williams N, Cording E, Thomsom R, Durand MA, et al. Grades de opções: tomada de decisão compartilhada facilitada. Paciente Educ Couns. 2013; 90 (2): 207-12. DOI: https://doi.org/10.1016/j.pec.2012.06.036

(47) Stevenson FA, Barry CA, Britten N., Barber N., Bradley CP. Comunicação médico-paciente sobre medicamentos: as evidências para a tomada de decisão compartilhada. Soc Sci Med. Março de 2000; 50 (6): 829-40. PMID: 10695980 DOI: https://doi.org/10.1016/S0277-9536(99)00376-7

(48) Godolphin W. Tomada de decisão compartilhada. Healthc Q. 2009; 12 (spe): e186-e90. PMID: 19667767 DOI: https://doi.org/10.12927/hcq.2009.20947

(49) Adams SM, Miller KE, Zylstra RG. Manejo farmacológico da depressão em adultos. Am Fam Physician. Março de 2008; 77 (6): 785-92. PMID: 18386592

(50) Saeed SA, Cunningham K., Bloch RM. Transtornos de depressão e ansiedade: benefícios de exercícios, ioga e meditação. Am Fam Physician. 2019 Mai; 99 (10): 620-7.

(51) Kellezi B, Wakefield J, Stevenson C, McNamara N, Mair E, Bowe M, et al. A cura social da prescrição social: um estudo de métodos mistos sobre os benefícios da conexão social na qualidade e eficácia da prestação de cuidados. BMJ Open. Novembro de 2019; 9 (11): e033137. DOI: https://doi.org/10.1136/bmjopen-2019-033137

(52) Hassan SM, Giebel C, Morasae EK, Rotheram C, Mathieson V, Ward D, et al. Prescrição social para pessoas com necessidades de saúde mental que vivem em comunidades desfavorecidas: o modelo Life Rooms. BMC Health Serv Res. Janeiro de 2020; 20 (1): 19. PMID: 31906933 DOI: https://doi.org/10.1186/s12913-019-4882-7

(53) Carnes D, Sohanpal R, Frostick C, Hull S, Mathur R, Netuveli G, et al. O impacto de um serviço social de prescrição em pacientes na atenção primária: uma avaliação de métodos mistos. BMC Health Serv Res. 2017 Dez; 17 (1): 835. DOI: https://doi.org/10.1186/s12913-017-2778-y

(54) Gussak D. A eficácia da terapia da arte na redução da depressão em populações carcerárias. Int J Ofensor Ther Comp Criminol. 2007 Ago; 51 (4): 444-60. DOI: https://doi.org/10.1177/0306624X06294137

(55) Ciasca EC, Ferreira RC, Santana CLA, Forlenza OV, Santos GD, Brum PS, et al. Arteterapia como tratamento adjuvante para depressão em mulheres idosas: um ensaio clínico randomizado. Braz J Psychiatry. Conjunto de 2018; 40 (3): 256-63. DOI: https://doi.org/10.1590/1516-4446-2017-2250

(56) Karkou V, Aithal S, Zubala A, Meekums B. Eficácia da terapia do movimento de dança no tratamento de adultos com depressão: uma revisão sistemática com meta-análises. Front Psychol. 2019 Mai; 10: 936. DOI: https://doi.org/10.3389/fpsyg.2019.00936

Downloads

Publicado

2021-09-26

Como Citar

1.
Pereira MTCG, Souza FAM de, Cardoso FM. Tratamento medicamentoso para depressão e prevenção quaternária. Rev Bras Med Fam Comunidade [Internet]. 26º de setembro de 2021 [citado 29º de março de 2024];16(43):2568. Disponível em: https://rbmfc.org.br/rbmfc/article/view/2568

Edição

Seção

Perspectivas

Plaudit